Quem não se lembra da seguinte cena: clã de mafiosos reunido, aguardando notícias de uma das “operações” da família, recebe um funesto embrulho trazendo notícias de Luca Brasi. “É uma antiga mensagem siciliana”, diz um dos carcamanos: “significa que Luca Brasi virou comida para peixes”
A cena é do filme O Poderoso Chefão, clássico de Francis Ford Coppola. Esta semana o presidente dos EUA, Barack Obama, também recebeu um desses embrulhos misteriosos. No pacote estava escrito “Geronimo is KIA”. E todos que estavam reunidos em uma sala reservada da casa branca - também aguardando notícias de uma operação muito importante - fizeram cara de que a coisa estava fedendo muito mais do que peixe podre.
A Secretária de Estado Americano Hilary Clinton levou a mão à boca e com uma expressão chocada entregou para o mundo inteiro que o que estava visualizando era uma foto das boas, no melhor estilo ensangüentado que Hollywood adora promover e que os cidadãos americanos precisam consumir da mesma forma que consomem hambúrgueres e utilitários esportivos.
Ali naqueles monitores estava Osama Bin Laden. O criminoso mais procurado de todos os tempos. O homem que idealizou e financiou por meio de uma organização terrorista o maior atentado da história dos EUA. O personagem principal da guerra ao terror, exposto ali, em pixels, via Streaming. Não em película, como o Luca Brasi agonizante do filme ou como “Sonny” Corleone cravado de balas; Nem como Bonnie e Clyde no filme homônimo que ficou famoso. No centro daquela mesa, junto com relatórios da operação, bem que poderia ter um balde de pipocas amanteigadas e um Coca Cola tamanho família. Pela cara do general americano com grande experiência em combates no Golfo, Iraque e Afeganistão o filme nem era lá essas coisas.
Mas será que o homem virou mesmo comida para peixes? Ou será que foi servido em Guantánamo, como acompanhamento especial nas sessões diárias de tortura coletiva da base? Seria um prato cheio para os famintos torturadores do exercito americano. Todos equipados com armas de grosso calibre, técnicas milenares de tortura e celulares com câmera.
Curiosamente, nós, espectadores que a exemplo dos americanos somos apaixonados por um bom derramamento de sangue, não vimos nem uma fatia de sushi afegão. Para nós, que assistimos com certo prazer a execução por enforcamento de outro genocida famoso, somente uma montagenzinha tosca de internet desmentida horas depois.
Nem o embrulho, nem o peixe, nem a espinha. Nenhuma imagenzinha de nada. Nem um pedacinho da barba do homem. A guerra ao terror acabou e não temos nenhum fotograma pra contar a história. Curiosamente, ela aconteceu ao mesmo tempo em que acontecia também a revolução das câmeras digitais. E quando o criador finalmente conseguiu derrotar a criatura teve que mandar ela às pressas para o fundo do mar. Não deu nem tempo de tirar uma foto pra postar no Facebook.
É uma pena. Quem disse que a revolução seria televisionada errou. O fim da guerra ao terror não teve nem a pose final do vilão.