sexta-feira, 13 de maio de 2011

Cai o poderoso chefão.

Quem não se lembra da seguinte cena: clã de mafiosos reunido, aguardando notícias de uma das “operações” da família, recebe um funesto embrulho trazendo notícias de Luca Brasi. “É uma antiga mensagem siciliana”, diz um dos carcamanos: “significa que Luca Brasi virou comida para peixes”

A cena é do filme O Poderoso Chefão, clássico de Francis Ford Coppola. Esta semana o presidente dos EUA, Barack Obama, também recebeu um desses embrulhos misteriosos. No pacote estava escrito “Geronimo is KIA”. E todos que estavam reunidos em uma sala reservada da casa branca - também aguardando notícias de uma operação muito importante - fizeram cara de que a coisa estava fedendo muito mais do que peixe podre.

A Secretária de Estado Americano Hilary Clinton levou a mão à boca e com uma expressão chocada entregou para o mundo inteiro que o que estava visualizando era uma foto das boas, no melhor estilo ensangüentado que Hollywood adora promover e que os cidadãos americanos precisam consumir da mesma forma que consomem hambúrgueres e utilitários esportivos.

Ali naqueles monitores estava Osama Bin Laden. O criminoso mais procurado de todos os tempos. O homem que idealizou e financiou por meio de uma organização terrorista o maior atentado da história dos EUA. O personagem principal da guerra ao terror, exposto ali, em pixels, via Streaming. Não em película, como o Luca Brasi agonizante do filme ou como “Sonny” Corleone cravado de balas; Nem como Bonnie e Clyde no filme homônimo que ficou famoso. No centro daquela mesa, junto com relatórios da operação, bem que poderia ter um balde de pipocas amanteigadas e um Coca Cola tamanho família. Pela cara do general americano com grande experiência em combates no Golfo, Iraque e Afeganistão o filme nem era lá essas coisas.

Mas será que o homem virou mesmo comida para peixes? Ou será que foi servido em Guantánamo, como acompanhamento especial nas sessões diárias de tortura coletiva da base? Seria um prato cheio para os famintos torturadores do exercito americano. Todos equipados com armas de grosso calibre, técnicas milenares de tortura e celulares com câmera.

Curiosamente, nós, espectadores que a exemplo dos americanos somos apaixonados por um bom derramamento de sangue, não vimos nem uma fatia de sushi afegão. Para nós, que assistimos com certo prazer a execução por enforcamento de outro genocida famoso, somente uma montagenzinha tosca de internet desmentida horas depois.

Nem o embrulho, nem o peixe, nem a espinha. Nenhuma imagenzinha de nada. Nem um pedacinho da barba do homem. A guerra ao terror acabou e não temos nenhum fotograma pra contar a história. Curiosamente, ela aconteceu ao mesmo tempo em que acontecia também a revolução das câmeras digitais. E quando o criador finalmente conseguiu derrotar a criatura teve que mandar ela às pressas para o fundo do mar. Não deu nem tempo de tirar uma foto pra postar no Facebook.

É uma pena. Quem disse que a revolução seria televisionada errou. O fim da guerra ao terror não teve nem a pose final do vilão.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Como escrever um manifesto

Hoje, escrevemos um manifesto. 
Hoje, iniciamos a segunda frase usando a mesma palavra do início da primeira frase.
Então escrevemos uma frase um pouco menor.
E outra menor ainda.
Então escrevemos outra frase muito, muito maior, que talvez não faça nenhum sentido, mas que foi seguida imediatamente por:
Três.
Palavras.
Seguidas.
Então fizemos um ponto de equilíbrio.
Ao usar uma contração ou preposição no início.
Ao repetir a contração ou preposição anterior.
Ao fazer isto por três vezes seguidas.

E aí fizemos outra frase muito longa que criou uma expectativa para o nosso conceito abrangente que se resume em uma palavra que não faz absolutamente nenhum sentido.

Samambaia!


(via The Denver Egotist)

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Queremos a verdade. Nada mais que a verdade.

Todo mundo quer alguém para ficar bem perto e para dividir conosco as experiências, vícios e virtudes. As verdades, enfim. Isto é o que de fato esperamos (olha o fato aí de novo).

Temos a necessidade de ver para crer. De confirmar o episódio. Tem gente que não consegue terminar uma frase sequer sem fazer aquela famigerada pergunta: “não é verdade?”

Logo cedo tratamos de escolher as “nossas verdades”. Um combinado ideológico que carregamos durante a vida toda e respeitamos toda vez que temos uma decisão a tomar. Uma espécie de doutrina, um mantra da verdade absoluta interior.

Mas nem todo mundo quer assumir que sua própria verdade foi criada por si mesmo, portanto, tem é claro o enorme potencial de ser, na verdade, uma grande e auto-alimentada (pasmem) mentira!

O que às vezes a gente acha que quer é alguém que nos diga sempre a verdade, sem privar-nos de nenhum ínfimo detalhe. A verdade nua e crua, atirada no meio da cara, como se fosse uma torta de glacê arremessada pelo inimigo. Um tabefe dado com aquela crueldade que só uma verdade das bem cabeludas é capaz de carregar. Sem dúvida nenhuma: a verdade é o que importa.

Verdade? O que realmente importa não é o amor? Perdi essa aula? Oh... Ilusão!

A questão é outra. O que todo mundo quer (de verdade) é alguém pra mentir só um pouquinho para a gente, assim bem de leve mesmo, uma mentirinha de nada, que é pra gente acreditar de verdade. Que é pra gente continuar achando que quer o que acredita querer e pronto.

É ou não é verdade?

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

A escolhida | Marília

Todo homem tem no seu currículo uma transa inesquecível com uma mulher de peso. Os que dizem que não, estão mentindo descaradamente. E, todos eles se lembram dos detalhes, do gozo e da volúpia. Tempos atrás fui a escolhida de um engenheiro paulistano. Uma sexta-feira cheia de surpresas para ele e para mim.O cara era bonito e tinha cara de quem ainda coleciona action figures. Estatura média, cabelos castanhos, barba meticulosamente desenhada, de quem tenta copiar o estilo “por fazer”. Vi que estava de olho numa mulata chocolate que acabou sumindo na pista de dança com um tipo bombadinho. Quando o samba rock esquentou e a terceira dose de tequila bateu, foi em mim que Marcio esbarrou.

Eu sou bonita. Mas sofro de um a mal que assola boa porcentagem das mulheres mais gordinhas: sou bonita de rosto. Vejo dragões de cabelos esticados e pintados, seios bombados e corpos sarados. São as fêmeas alfa, as que escolhem, são as modelos de passarela. Por muito tempo, sofri por ter de esperar que elas escolhessem seus machos para que depois, eu pudesse escolher ou ser escolhida pelas sobras. Hoje, encaro isso de uma outra forma. Quem fica é mais interessante do que quem foi com elas. Porque o que para elas é lixo, pra mim é luxo. Elas levam os bombadinhos. Eu fico com os originais de garrafa. Marcio, apesar do uísque, era um deles.

Roda pra lá, gira, encaixa e roda pra cá. Logo percebi o volume nas calças de Marcio aumentando. Ele sorria, me apalpando, metia a boca no meio dos meios seios. Dali pro canto do salão, pro carro dele e depois, pro motel. Marcio desenrolou de dentro das calças um verdadeiro monumento que eu saboreei e acariciei com a língua até sentir escorrer pela garganta um liquido viscoso e quente. Depois disso, ele disse: "Agora, é minha vez". Dito e feito. Ele veio com tudo. Me beijou inteira, parecia um adolescente faminto diante de um banquete. E, eu não sou coffee break. Sou feijoada, sou self-service, sou vatapá.

Não sou prêt-à-porter, sou comida para comer.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Sobre ser alguém

Here we go again!

Quando que é que descobrimos se vamos ou não ser alguém nesta vida? Em que parte é que a gente descobre se vai ter ou não sucesso na carreira escolhida? E aquele sonho que nasceu lá no início da faculdade? Vai rolar ou não? Não sei, não quero saber e tenho uma puta de uma raiva de quem sabe.

Confiante pero no mucho, ainda um pouco inseguro. Radiante e alerta tentando dar certo no mundo. Olha eu aqui mamãe! Digno de consideração, perhaps.

Vamo que vamo.

Eu cresci no meio dos cachorrinhos, agora ando no meio dos lobos. Sei que é foda, mas vou ter que aprender a mostras os dentes.

Que tal parar de dizer que tá velho pra isso, que tá mal vestido ou que não gosta desse jeito ou de outro?

Vou experimentar com um pouco mais de pimenta.

Sinto que estou mudando. Sem perder o mojo, é claro.
Ah! como eu me amo!
E ainda nem sou ninguém.

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Tempo esse predador

Texto que escrevi para a locução do filme de 30" que foi feito para o cliente Revista piauí no meu trabalho de conclusão de curso.


Tempo
Esse predador
Que algema as histórias bem contadas
Que estrangula os detalhes importantes
E tira das mãos de quem escreve
a possibilidade
de se dedicar

Dead line
Essa rameira
Que salda a satisfação da apuração cuidadosa
E transforma grandes reportagens em notas
E onde haveria de estar a beleza das letras
Está a correria
dos textos tacanhas

Urgência
Que se antecipa à qualidade,
e decapita, sem dó nem piedade
o texto de boa qualidade que leitores mais exigentes adoram
por saber que ali encontrarão a representatividade do relato
que trará importância e relevância ao assunto
e essência e consistência ao conto

Tempo
esse manipulador
Trabalhar em função dele é correr na linha tênue entre o
“dedicar-se totalmente”
ou “desleixar-se urgentemente.”
A cotidianidade, rotineira e plana,
é plena de vazio quando tratada a esmo
mas a mesma cotidianidade
transforma-se em experiência inesquecível
através do precioso e bem escrito
Texto

Leve o tempo que precisar

Leia piauí
Prazer da leitura.

domingo, 25 de julho de 2010

Parafraseando Drummond

Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Lira! se fode na vida.

domingo, 4 de julho de 2010

Questões estéticas

Imagine como seria
um outro eu reformulado
Que tal seria? Roupas novas, barba feita
e os cabelos penteados?

Eu até poderia
então ser convidado
pra um monte de festas in
e para eventos badalados

E então seria eu mesmo impressionado
vazio, impotente e até mais frustrado
seria eu deslumbrado
perdido em sorrisos falsos

Seria outro eu como os tantos
que não são um só eu

São todos fabricados

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Descartes

Descartes meu querido
mudaram seu cogito
por aqui agora se diz:
"Tenho. Logo, existo."

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Percurso

___Quarto de século
quase inteiro já se foi
___tocando o foda-se
carnal intenso e vil
___aos que desprezo
peço um brinde
___e para mim?
Só peço o filme
___que se faça por si só

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

terça-feira, 8 de setembro de 2009

terça-feira, 21 de julho de 2009

Pixo

Assista um trecho do documentário Pixo feito pelo fotografo da Folha de São Paulo João Wainer que discute a pichação na cidade de São Paulo. O documentário contem registros inéditos de várias ações dos pichadores inclusive a invasão do Centro Universitário Belas Artes que eu comentei aqui.

sexta-feira, 29 de maio de 2009

Café da Tarde

Pra inspirar aqueles, que como eu, precisam de litros dessa bebida pra viver.
























via Lokesh Dakar

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Sobre a paz de ter-se e só.

Ele parou na porta do nosso quarto e disse: "Estou indo embora".
Nem tirei os olhos do romance.
Entendi perfeitamente o que ele disse mas não tirei os olhos da droga do livro. Nem me mexi.
Não consegui me mover. Não chorei também, não naquela hora. Apenas recebi aquilo como uma flecha no peito e senti o sangue todo do corpo correr diretamente para o coração que inflou como um balão de gás prestes a estourar. Nos segundos seguintes os lábios quiseram se mover, trêmulos, mas só fizeram desenhar na face uma espécie de apatia desesperada. Choque total!

Perguntei pra mim mesmo "e agora?" Se tivesse perguntado isso a ele talvez tivesse uma resposta que não gostaria mesmo de ouvir, por isso a pergunta foi pra mim mesmo.

Meu pensamento então viajou no trem dos nossos últimos três anos e de dentro do vagão eu vi apenas os vultos pela janela. Era mesmo hora de ir, mas não queria falar, não ali, não naquela hora. Quis esboçar uma expressão de derrota, mas não consegui.

Como já disse fiquei ali parada. Nem me mexi.

"Lúcia?" disse ele buscando minha atenção.

Respondi com um aceno breve, engoli em seco algo que provavelmente seria um insulto, respirei fundo e olhei de novo para baixo.

Ele enfim falou alguma outra coisa. Não entendi, pois não prestava atenção no que ele dizia. Por quê? Ora, eu tentava entender o que estava acontecendo dentro de mim, eu estava pensando em mim de novo. Estava sendo a porcaria da egoísta que ele tanto odiava. Afinal de contas era como se toda a minha alma estivesse sendo sugada por alguma mangueira invisível que a despejava no ar. Era a minha alma, porra!! Flutuei pelo quarto, juro que vi as tardes de sol com nos dois cansados pelo quarto fumando cigarros e fazendo os "joguinhos" de toda natureza. Flutuando pude ver nos olhos dele a decepção em sua forma bruta. Seus olhos diziam que ele não mais me daria chances de me redimir. Ele não ia cair mais nessa.

Cheguei a sentir no quarto o cheiro do nosso suor que à muito tempo não se manifestava, senti o tal cheiro pois sentia falta de tudo isso, ele não, não mais, e a culpa de tudo isso, claro, é minha só minha e de mais ninguém.

Finalmente reagi olhei em sua direção, deixei o livro de lado e levantei da cama. Tentei me aproximar dele com um abraço e não me surpreendi quando ele se afastou e pois as duas mãos nos meus ombros. Tente dizer que aquilo tudo ia passar e que não conseguiria viver sem ele.

Não adiantou, nem meu choro, nem as palavras nem tentar persuadi-lo a ficar. Ele se recusava a ouvir. Me exaltei bastante, as lágrimas agora vieram em torrente e senti todos os meus músculos estremecerem involuntariamente.
Percebi sua revolta, pulsante.
Cuspiu na minha cara todo o discurso da mulher que se preocupa apenas com o próprio umbigo.
Vomitou as traições que relevou, todas, em ordem cronológica.
Continuou a esbravejar incansavelmente todos os argumentos válidos para me abandonar ali naquele apartamento a mercê do tempo e das rugas.

Enquanto sua voz grave reverberava no aposento eu tomei minha decisão.

Não é necessário detalhar a fração de segundo que durou o disparo, não vem ao caso fazer, basta dizer simplesmente que vi diante dos meus olhos a vida do homem que mais amei na vida se esvair lentamente. Estranhamente o cheiro do sangue que escorreu pelo assoalho me trouxe uma mistura alívio e gozo que estão a léguas da culpa e do arrependimento.

Não é preciso dizer que me senti melhor ao saber que ele não ia embora e que involuntariamente iria ficar. Não seria de mais ninguém e ia continuar sendo somente meu enquanto eu quisesse. Isto me pois calma e pensativa. Caminhei lentamente na sua direção e toquei-lhe a face antes rosada e agora quase sem vida. Não me despedi pois não se fez necessário, afinal estaremos juntos durante toda a eternidade, e disso eu tinha absoluta certeza, sua alma me pertencia agora como pertenceu também em vida e o seu destino não poderia ser escrito de outra maneira senão esta a qual apenas tornei possível.

Coloquei a arma de volta na gaveta do criado mudo e apanhei novamente o grosso volume. Continuei a leitura saboreando lentamente cada parágrafo de tragédia, amor, angústia e dor.

sexta-feira, 22 de maio de 2009

When i grow up...

Para os futuros publicitários como eu, a triste realidade nua e crua exposta da maneira mais franca possível.



God save us

via Piores Briefings do Mundo

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Poesia de concreto

Em São Paulo um peido custa R$ 1,00 mais impostos

***

Não existe mais "mulher-objeto"
todas evoluiram para sofisticados itens de design

***

Passei a vida tentando ser alguma coisa
e me disseram que alguma coisa mudou
não quero mais ser nada, então.

***

Diáspora digital já, antes que o mundo acabe em terabites

***

O suburbano é antes de tudo um forte

***

No mais, descendo dessa solidão e tudo, estou indo embora, de ônibus.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Uma longa Jornada

Stop Motion | The Long Haul from DUMAIS on Vimeo.

Uma vida inteira juntos 4000 imagens e...

3 cameras fudidonas
2000 metros quadrados de estúdio
11 adoradores do Obama
2 Produtores com seus chicotes
450 kg de equipamentos
1 trilho de 360°
15 horas de maquiagem
2 atores imoveis por 22 horas
1 uma mulher com uma fantasia de dragão de festa infantil
72 horas de trabalho trabalho trabalho
1 canção "Bapapa"